Vida de artista (Por Janilton Prado)

Eu nasci em 1977, ao som de Abba, no Regime Militar, em Santa Rita do Sapucaí. Morei na roça, fui migrante, morei no chão batido, vivi em casa de rico, virei estudante, conheci a escola pública, passei pela particular, fui office-boy, aprendi a andar de mobilete, conheci os casarões da nossa praça, conheci os de Ouro Preto, virei artista, fiz teatro, novamente migrante, novamente sonhador, conheci a construção civil, fiz amigos, vivi amores, virei pai, formei teatro, voltei pra casa, fiz mais teatro, conheci o Rio, São Paulo, Curitiba, Belo Horizonte, Goiânia, Brasília e Desterro do Melo, atravessei o São Francisco, chorei, dei muitas risadas, fiz amigos eternos, fui professor, virei empresário, votei no Lula, Dilma, Aécio, Olavinho, Paulinho, Jeffinho, Hudson, trabalhei pro PV, me filiei ao PPS, escrevi peças, contei histórias, fui pai outra vez, perdi pessoas, esqueci mentiras, beijei, fumei, bebi, fui aplaudido, apareci na Globo, no SBT, na Record, conheci famosos, convivi com pessoas especiais, virei locutor de rádio, já fui a festas com dois, vivenciei os blocos do Urso, comi churros nas barraquinhas de Santa Rita, chorei na igreja, viajei sem destino, dormi ao céu de São Thomé, banho de rio, de mar, de cachoeira, hotel na Barra da Tijuca, pousada simples na casa do sr. José, avião, carro, cavalo, balsa, bicicleta, trolinho, à pé, cozinhei delícias, precisei de centavos, ganhei milhares, quase doei sangue, comecei três academias, fiz passinhos na Sede, dancei em casa, virei brinquedo das filhas, ganhei filhos do mundo, passei por mortes, acidentei meu carro, plantei árvores, feijão no algodão, presenteei com livros, já fui egoísta, altruísta, bobo, palhaço, mulher, subi nas três torres (literalmente), saltei de paraglider, virei repórter, desci rapel e, mesmo assim, depois de tudo isso, sinto uma vontade imensa de recomeçar a pensar na vida, nas oportunidades, nas pessoas, nas possibilidades, porque a única certeza dessa vida é a morte. Então que, pelo menos, eu faça história, a minha pequena grande história. Precisamos mudar a política deste Brasil.

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