Foi-se uma grande figura humana: Doutor Manuel Barreira Martinez

Salatiel é colunista do Empório de Notícias

O recente falecimento do professor da Universidade Federal de Itajubá—Doutor Manuel Barreira Martinez—deixou a todos seus amigos muito pesarosos. Tanto ele quanto seu irmão, Doutor Carlos Martinez, foram pessoas do meu mais estrito relacionamento nos bons tempos em que convivemos na Universidade de Campinas. Neste espaço reproduzo a emocionante despedida de seu irmão Carlos, este professor da Universidade Federal de Minas Gerais. Foi-se uma grande figura humana do qual todos sentiremos muitas saudades.

Tempo de nascer…” e tempo de reconhecer.

No dia 09 de dezembro foi cremado em Campinas (SP) o corpo do prof. Manuel Martinez. Entendo que, nesse dia, se encerrou um processo que teve início às 13 horas do dia 25 de outubro, na Cidade de Goyan, Pontevedra, Espanha. Meu irmão faleceu poucas horas após dar entrada com um infarto agudo do miocárdio no sistema de saúde local. Esse evento me levou  a expressar, sob a forma escrita, a gratidão pelo conjunto do que passamos ao longo do tempo nessa comunidade que ora recebe essas palavras. Por pura dificuldade pessoal, vou iniciar esse conjunto de pensamentos e de sentimento de gratidão com algumas reflexões. Começo por refletir o que é ser humano. Para mim, ser humano é algo que não tem uma definição formalmente fechada. Em que pese que diversos pensadores já, de longo tempo, tenham tentado definir o que isso significa, sempre existem variantes de pensamento que nos fazem circular e vagear pelo limbo de nossas mentes. Entre algumas, das muitas características do “ser humano”, as mais pessoais estão  relacionadas ao sentimento de ser reconhecido, de ser grato e de se sentir acolhido. Apesar de termos semelhanças de comportamento com diversos seres que habitam esse mundo, aparentemente, só os ditos “seres humanos” reúnem ao mesmo tempo um conjunto de sentimentos e os expressam de forma derradeira. Expressar esses sentimentos não é fácil e as vezes, nos retraímos com medo de sermos entendidos como fracos e ingênuos. Dai, a sensação de bem ou mal estar mesmo nas situações mais adversas e até estranhas. Tenho, ao longo de minha existência, acompanhado e participado, há mais de 35 anos,  da vida dessa comunidade de Itajubá. Vi muitas boas e produtivas ações, outras nem tanto. Vivenciei diversas experiências de solidariedade e de acolhimento e em alguns momentos tive a oportunidade de ver e sentir o quanto um agrupamento humano pode ser solidário. Por um sem fim de motivos, não me pronunciei, à época, da forma como devia. Me arrependo disso e por isso. Assim, nesse momento, não posso mais uma vez me silenciar. Em  25 de outubro perdi meu irmão. Perdi um amigo. Sinto que o mesmo se deu com muitas pessoas.  A Engenharia Nacional também perdeu um de seus membros mais entusiastas. Pessoa crítica e de opiniões duras. Tinha como certeza que o caminho para o engradecimento Nacional passava pela boa formação de quadros. Dedicados e atentos. Não vou me alongar nos predicados de meu irmão, pretendo me deter no que ocorreu no seu pós morte. Após a perplexidade inicial tivemos, eu e demais familiares, que enfrentar uma verdadeira maratona para trasladar seu corpo já sem vida do outro lado do mundo. Tive apoio enorme de meus familiares e de amigos, que mais são irmãos, em Itajubá. Também, presenciei exemplos de rara atenção por parte da seguradora, agência de viagem e da funerária que nos atendeu. A UNIFEI e seus servidores, na pessoa de seu Reitor, se mostrou mais do que uma Instituição, foi um porto seguro que no meio a tormenta apareceu para salvar nossas tristes almas de uma avalanche de dúvidas e incertezas. O apoio, o olhar entristecido e a consternação que presenciei foi por demais emocionante. Senti um abraço de pessoas que conheço há mais de 40 anos. Pessoas que trabalharam com meu Pai há quase meio século atrás e que me fizeram lembrar de fatos que estavam no fundo de minha mente e alma. Senti de perto a solidariedade de colegas e amigos com os quais ele estudou e juntos decifraram as entranhas do cálculo diferencial, da mecânica racional e das ocultas facetas do electromagnetismo. Estive, com especial carinho, ao lado dos seus amigos de profissão que vieram dos mais distantes recantos desse Brasil. E o que dizer das lembranças de suas lutas, que a vida vai, inexoravelmente, encobrir com as brunas do tempo – “quem o fará voltar para ver o que será depois dele?…”. Ao vê-lo coberto e acolhido com a bandeira da EFEI (agora UNIFEI) me lembrei da ultima conversa, que com ele tive. Como em uma premunição, ele me pediu para tê-la cobrindo seu corpo. Também me lembrei de uma conversa de quase cinquenta anos, logo após a descida do primeiro homem na lua (20/06/1969). “Manuel o mais jovem foi o que primeiro que pisou na lua – ele vai viver mais, eu sou mais novo que você…”. Nesse momento, com sua já formada impulsividade ele me disse: “Vou viver para sempre. Você pode morrer tranquilo que estarei ao seu lado mesmo na morte”. Palavras de criança que formaram em minha mente a imagem de um imortal, ao menos para mim. Ledo engano. A vida nos prega peças e na verdade me sinto traído por ela. Não foi isso o que combinamos quando crianças. Já no presente não irei me esquecer das palavras pronunciadas ao final de seu velório pelo prof. Dagoberto. Palavras de conforto e de amizade, elas me fizeram imensamente bem. Quem as disse não sabe como elas calaram em nossas mentes.  Por tudo isso e por uma questão de reconhecimento, gratidão e de acolhimento, tenho que deixar aqui, em veículo público, o nosso agradecimento e reconhecimento por tudo o que vivenciamos nesses momentos difíceis. A solidadriedade da Instituição (UNIFEI), de seus membros (professores, servidores, procuradores e demais colaboradores), dos amigos que compareceram e daqueles que na impossibilidade se fizeram presentes, foram muito expressivas e nos fizeram sentir HUMANO. Um terno abraço a todos e a essa cidade de Itajubá.

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