Um papo de boteco com Marcos “Badolak” Paulista

Na quarta-feira do dia 23 de março, combinamos um bate-papo com o cantor e compositor santa-ritense Marcos Paulista, no Dija Gastronomia, e acabamos descobrindo uma maneira bacana de se fazer entrevista. Os interlocutores seriam os próprios frequentadores do bar ou pessoas que estivessem por lá no momento. O resultado você confere a seguir.

Carlos Romero: Como foi a sua chegada à cidade?

Paulista: Eu cheguei com doze anos. Quando o meu pai faleceu, a minha mãe ficou sozinha. Eu era o mais velho dos três irmãos. Viemos para Santa Rita porque o meu avô construiu uma casa pra gente e achou melhor que fôssemos criados no interior, pelo fato de não termos a presença paterna.

Carlos Vilela: Como a música entrou na sua vida?

Paulista: Eu morava em um bairro de Hippies em São Paulo chamado Jaguaré. As pessoas que ficavam por lá ouviam muito Led Zeppelin, Raul, Made in Brazil (que era uma banda ali da região) e aquilo foi fazendo parte da minha infância. De certa forma, aquele foi o pano de fundo do ínício da minha vida. Com 16 anos, como eu já sabia várias músicas de cor, peguei um violão que o meu pai tinha deixado, pedi para um tio afinar, comprei uma revistinha de cifras, comecei a tocar e nunca mais parei! A primeira música que eu toquei foi do Raul: A Maçã.

Carlos Romero: Como era a sua adolescência em Santa Rita?

Paulista: Eu tive uma “juventude transviada”! Foi bem bagunceira. Muita bebedeira, muita diversão, muito “cagando e andando”, muito Rock and Roll, pouco estudo e muitas amizades que eu quero levar para o resto da minha vida! Pato, Tomassoni, Zezinho, Luiz Gomes, muitos que foram embora…

Carlos Vilela: Como a música se manifestou na sua vida por aqui?

Paulista: O que me fez ficar a fim de fazer um som foi a época das barracas, na festa de Santa Rita. Naquela época, havia muita música ao vivo. Muitas vezes você encontrava dez barracas tocando som ao mesmo tempo e aquilo era muito bom!

Xerife: Isso aconteceu quando?

Paulista: Começo de noventa! Todo mundo que viveu aquela época, sabe do que eu estou falando. Teve uma vez em que eu vi o Maurinho tocando “O poeta está vivo” e quando ele deu a batida no violão, pensei: “É esse som que eu quero fazer!” A partir daí, quebrei muitas cordas de violão!

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Senhor Ângelo, Dija, Carlos, Paulista e Xerife

Carlos Romero: Como começou esta história de criar as próprias músicas?

Paulista: Estava com 16 anos, tinha chegado do trabalho e comecei a tirar um som. Nisso, criei uma música chamada “Você precisa aceitar” e gostei do resultado. A letra era sobre uma namorada que ficava jogando as coisas na minha cara, tinha muitos ciúmes, dizia que eu tinha que dar um jeito na vida e pensar em casamento. Eu nunca toquei esta música ao vivo, mas lembro até hoje! Dali em diante, comecei a produzir, mas nunca com o intuito de alguém ouvir. Fazia aquilo para me divertir.

Carlos Vilela: E quando mudou a chavinha? Quando decidiu mostrar as composições?

Paulista: A partir do momento em que eu perdi o medo de ser criticado. Eu passei a ter orgulho do que fazia e comecei a achar que eu tinha um dom de colocar para fora os meus sentimentos.

Carlos Romero: Qual é a música que você tem mais orgulho?

Paulista: É difícil responder. Costuma ser a mais nova! (Risos)

Xerife: E como é esta música?

Paulista: Eu fiz para os meus filhos. “Agora são três diamantes. Três estrelas gigantes… da espécie gigante amarela, brincando na minha janela. Três soizinhos errantes, de uma galáxia distante, direto pra ela!” É uma música bem particular. Não penso em colocar na minha banda. É bem lúdica.

Carlos Vilela: E a sua cruz, “Nem por um milhão de dólares”?

Paulista: Gosto muito! Acontece que, às vezes, estou a fim de tocar outra coisa, mas as pessoas pedem!

Ouça “Nem por um milhão de dólares”.

Carlos Romero: Qual é o seu plano em relação à música?

Paulista: Meu plano não é nenhum sonho de rockstar. Quero gravar as minhas músicas e deixar registrado para que consiga me eternizar um pouquinho, através do meu trabalho. Penso que eu posso viver um pouco mais, depois da minha morte… Quero que os meus filhos e os meus amigos se lembrem de mim.

Carlos Romero: Qual é a sua visão da cena musical em Santa Rita?

Paulista: Acho que está começando a ficar legal. Houve um tempo em que não tinha nada além de cover. Como o rock estava em alta e a música era boa, as pessoas não precisavam se preocupar em compor. Chegou uma hora em que as bandas acabaram e a gente pensou: E aí? Vamos tocar Legião pelo resto da vida? Foi aí que começamos a criar as nossas próprias músicas.

Carlos Vilela: Chegou um momento em que, ou você tocava Detonautas ou criava seu próprio som! (Risos)

Paulista: Acabou! Ou criávamos nossas músicas ou teríamos que conviver com os anos 80 pelo resto da vida!

Carlos Vilela: O que você tem visto de legal na região?

Paulista: Gosto muito do Patronagens, da King in the Belly, da banda do Galinha que produziu um trabalho autoral muito bacana, do Eron que é mais intérprete, do Alan… tem muita gente bacana.

Carlos Vilela: Tem espaço para tocar na região?

Paulista: Não tem muito, não. Você consegue fechar para tocar cinco músicas autorais e duas horas de cover. Quem sempre nos apoia é o bar da Aninha, o Parada Obrigatória. Ela sempre deu a maior força pra gente!

Conheça outras músicas da banda Badolak:

Foi um sonho

Eu juro que nunca mais

Às vezes

1 COMENTÁRIO

  1. A cabeça do pessoal de santa rita ainda é muito fechada, eis ai a prova.
    Música não é só rock, cenários não é só Aninha e Cultura não é só aquilo que gostamos.

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