Infectologista Doutor Manoel fala sobre panorama da prevenção em Santa Rita

Poderia nos contar como têm acontecido os trabalhos de prevenção em Santa Rita?

Eu comecei juntamente com a Dona Beta, Secretária Interina de Saúde e com a colaboradora Meridiana, a executar um trabalho atípico na região. Pelo número reduzido de habitantes, foi possível que realizássemos reuniões com diversos setores e tal atividade teve um aproveitamento altamente produtivo.

De que maneira isso ocorreu?

Inicialmente, nós fizemos reuniões com profissionais de saúde no sentido de estabelecer os objetivos principais de anamnese e diagnóstico. Tais reuniões não aconteceram com os médicos, mas com dentistas da cidade, por exemplo, que foram orientados a realizar anamenese antes de receber os pacientes no consultório. Previmos que poderia acontecer de um dentista receber, por exemplo, um paciente com febre ou com sintomas de Covid-19 e, desde então, o ambiente já estaria contaminado. Nossa orientação foi de que fizessem uma ligação para a casa dos pacientes antes da vinda deles para o tratamento, para perguntar como estava o estado de saúde da pessoa. Em caso positivo, passou a ser recomendado um médico.

E foram realizadas reuniões com outras áreas?

Sim! As academias demonstraram interesse em retornar ao trabalho e, por conta disso, nos reunimos na incubadora para realizarmos uma explanação sobre a doença e passando as coordenadas sobre nossas expectativas quanto ao segmento deles. A ideia é que todos os setores também sejam responsáveis. E assim, expandimos nossas reuniões com os donos de restaurantes, bares e outras atividades similares. Foi um trabalho de formiguinha, passo a passo, abrangendo todas as áreas que julgamos essenciais para a prevenção.

E como está o quadro de infectados de Santa Rita em relação à região?

Nosso número de casos não pode ser comparado, proporcionalmente, com o de Pouso Alegre. Na cidade vizinha, a circulação de pessoas é muito elevada e, por conta disso, o número de casos também é bem maior.
Partindo da nossa realidade, o número de casos aumentou por aqui porque o fluxo de pessoas no Estado também aumentou. Por outro lado, várias empresas locais também passaram a realizar testes rápidos em seus colaboradores o que nos permitiu verificar, por exemplo, que existem casos assintomáticos em nosso município, constando também em nosso banco de dados.

Há planos para uma análise mais abrangente?

Em uma reunião que tivemos na última segunda-feira com o prefeito, foi levantada a possibilidade de realizarmos um estudo epidemiológico mais abrangente, dividindo a cidade em cinco regiões, segmentando a população por idade e também por gênero. A proposta seria implementarmos um trabalho científico para entendermos como está a situação da cidade, mediante aplicação dos testes. Estou aguardando um retorno da Secretária de Saúde para darmos início a este procedimento.

Os comerciantes têm colaborado ou estão resistentes aos procedimentos de prevenção?

O principal parâmetro é a clientela. Nós temos observado que não tem havido tantas críticas em relação ao comércio. A maioria delas tem sido quanto à atuação dos bares, em sua maioria localizados nas regiões periféricas. Já as empresas, de maneira geral, têm respeitado o distanciamento, atuado com máscaras, o que tem nos deixado satisfeitos com a participação.

Existe possibilidade de haver um lockdown na cidade ou está sob controle?

Está tudo sob controle. Tem aparecido, mais ou menos, um caso por dia. Desde que continuemos com a mesma proposta e com a mesma participação dos comerciantes, não vejo motivo para Lockdown.

Como tem acontecido a fiscalização?

Infelizmente, nós não dispomos de um contingente na vigilância sanitária capaz de fiscalizar todos os estabelecimentos e rodar pela cidade o dia inteiro. Então nós dependemos muito do apoio da população neste procedimento. As pessoas precisam aprender a defender os seus direitos e informar os órgãos competentes.

Existe discriminação quanto às pessoas infectadas?

Isso quase que ocorreu por aqui e eu tive que intervir para que não acontecesse. Em dado momento, quase que voltamos à era da lepra. Para alguns, parecia que o sujeito infectado deveria ser cremado vivo. Noto que, ultimamente, as pessoas têm compreendido melhor.

E todos estão sujeitos ao contágio, não é mesmo?

É tão interessante esta doença que muitas pessoas não saem de casa por motivo algum e, ainda assim, acabam infectadas. Tenho uma amiga que não vai a lugar algum e que nem deixa suas crianças colocarem os pés na rua. Há todo um ritual para que o marido entre em casa. Ainda assim, um dia ela começou a apresentar febre, demonstrou possuir alguns sintomas e, depois de cinco dias de evolução do seu quadro de saúde, foi detectado que estava contaminada com o Coronavírus.

Algumas medidas de prevenção têm servido como aprendizado?

Eu aprendi muito ao avaliar as necessidades e condições de nosso Mercado Municipal. Quando estivemos lá, percebemos que não havia pia para as pessoas lavarem as mãos, que o banheiro não estava de acordo e passamos a encarar o local com um rigor completamente diferente. Dali em diante, foi realizada a instalação de quatro pias, de álcool acionado pelo pé e tomadas algumas medidas para resolver não só o problema momentâneo, mas para o futuro também.

Você esteve presente nos procedimentos durante a enchente de 2000?

Estive sim! Quem comandou, na época, as medidas epidemiológicas fui eu. Existe uma portaria no MEC que estabelece que um professor de epidemiologia deve sempre auxiliar a cidade em que vive, nos momentos de necessidade.
Em 2000, criamos no Grupinho (Joaquim Inácio) um centro de atendimento, onde algumas pessoas também ficaram abrigadas. Naquele momento, estabelecemos um sistema de imunização em que as pessoas atingidas eram imunizadas contra o tétano e contra a febre tifoide. Para você ver como a população é interessante, quando o rio baixou eu chamei o prefeito e disse que ninguém iria aguentar o cheiro na rua. Pedi a ele que passássemos com um caminhão dando banho de hipoclorito de sódio. Lembro que recebi “n” críticas de que a água sanitária estava incomodando as pessoas, mas era o procedimento necessário na época. Portanto, procuro sempre fazer o que manda minha consciência, julgando o que será melhor para a população. Esta tem sido minha participação.

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